Então Madalena sorria para si
mesma, lendo e relendo a carta que seu namoradinho Naldo
lhe mandara esta manhã. Era um dia chuvoso e Madalena tinha esquecido o
guarda-chuva em casa e é claro que Naldo tinha um – sempre tão precavido,
Madalena nunca vira Naldo pegando chuva nem despreparado para uma prova, mas é
claro que isto não influenciara em nada o fato dela ter deixado o seu em casa –
então ele entregou-a seca e confortável em casa, foi quando, desajeitadamente,
lhe entregou a cartinha e lhe deu um beijo de tchau... no rosto.
Primeiro amor é assim mesmo.
Naldo e Madalena se viam todos os dias, tinham quase todas as aulas juntos –
exceto por línguas estrangeiras, Madalena escolhera espanhol e Naldo inglês.
Dividiam seus lanches no recreio e andavam de mãos dadas quando os olhares
reprovadores da diretora não estavam por perto. Correspondiam-se com cartinhas
de amor e trocavam figurinhas de amor que vinham em chicletes. Tudo parecia
perfeito, até que um dia Madalena conversava com Priscila, do 1º ano do ensino
médio – Madalena estava na sexta série.
– E ai, já transaram?
Naquele momento a cabeça de
Madalena começou a dar voltas. Como assim se já haviam transado? Eles nunca
haviam sequer se beijado!
– Hã... claro que não, né
Priscila! A gente tem 12 anos!
– Ah, tinha esquecido que você
ainda era novinha. Tá, mas já se beijaram pelo menos?
A pergunta a deixou tão
envergonhada como se algum menino lhe perguntasse que tamanho era seu sutiã.
Priscila era muito mais desenvolvida, andava com os meninos do 3º ano e usava
blusas que mostravam o umbigo, a alcinha do sutiã e sabe-se lá o que mais...
Madalena logo inventou um trabalho que tinha se esquecido e deu um jeito de
fugir da pergunta. Foi para casa aquele
dia pensando no seriamente assunto. Como podia ter parado no tempo de tal
maneira? Enquanto as meninas da sua idade já sabiam como colocar a camisinha na
banana Madalena parara na fase de andar de mão dada e dar beijinho no rosto.
Chegou em casa e foi direto para
o seu quarto, e ficou lá a tarde toda. Até seus pais estranharam seu
comportamento na hora do jantar, que foi quando depois de algum tempo pensativa
mexendo na comida, Madalena se levantou dramaticamente da mesa.
– Já sei o que fazer!
Todos a fitaram como se tivesse
enlouquecido, e assim que sua mãe se recompôs do susto e da surpresa, foi logo
perguntar o que é que ela já sabia, afinal. Porém Madalena já estava batendo a
porta de seu quarto.
No outro dia, quando Madalena
chegou à escola, foi direto na turminha de amigos de Naldo. Agarrou-o pelo
pescoço e o arrastou até um canto entre a parede da escola e o muro que cercava
a mesma. Então sem nenhuma explicação agarrou-o pelo colarinho e começou a
beijá-lo, do mesmo jeito que via nas novelas – que foi a sua base de estudos da
noite passada.
E então, tão tempestuosamente
como surgiu, Madalena se foi deixando para trás um Naldo confuso e desorientado,
suspirando e pensando sobre como não entendia as mulheres, sem saber que muitos
anos depois ainda não entenderia.
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