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Uma carta para você

sábado, 28 de abril de 2012
Sinto sua falta. E saudade não é lá uma coisa que se vá embora com o tempo.
Ainda não sei quantas vidas terei de viver para suprir a falta que você me faz.
Das nossas conversas na varanda, das nossas noites de churrasco que o vovô, honestamente, não sabe assar. Das nossas tardes de melancia, madrugadas de sorvete.
Eu me perdi no meio do caminho sem você.
Eu me desprendi, me esqueci do que era certo.
E então agora estou aqui, numa tarde ensolarada lembrando da sua presença como se ela ecoasse em cada veia do meu pequeno coração, pensando sobre como você não estava aqui para ver eu me formar, sobre como não estará aqui para ver eu me casar e muito menos para embalar seus futuros netos.
Dói a falta das nossas conversas pelo telefone.
Dói não ter mais o teu ombro para chorar.
Você é a única pessoa para a qual eu nunca tive vergonha de chorar que nem uma criança, pois no seu colo sempre achei conforto para isso.
Deixa eu te dizer a falta que você me faz.
Você não sabe quem é a nossa nova presidente, não tem nem ideia de que a inflação sobe a cada momento, não sabe que o euro e por consequência a economia europeia está falindo e também não imagina, nem por um segundo que um pedaço de mim morre cada vez que eu sinto a sua falta.
O mundo anda em contínua guerra, sabia? Líderes revolucionários matam ex-ditadores e atuais, países estão em crise ou em guerra civil. Políticos roubando dinheiro de cofres públicos sem nenhuma vergonha na cara, e você dai onde está provavelmente não sabe disso, ou talvez até saiba que o mundo aos poucos está se acabando em egoísmo, charlatanismo, crueldade e outros talvez piores; e você não está aqui para ver que alguns dias conto moedas para ir ao supermercado, mas que isto não é vergonha alguma, pois estou fazendo tudo certo desta vez.
E há tantas coisas que você ainda não sabe sobre mim...
Que desde que você partiu eu fiz inimigos, mas muitos amigos, que eu descobri muitas coisas novas, boas e ruins. Que eu não tenho mais medo de andar na rua de noite, pois aprendi que não se precisa ir muito longe para correr perigo. Que você estava certa sobre como dizia que eu ainda ia me apaixonar muitas e muitas vezes e que era bobagem chorar pelo primeiro amor, que eu achava, seria o homem da minha vida. Que eu finalmente me impus, sai de casa, virei independente afinal. Que eu fiz da sua casa meu lar por algum tempo, do jeito que você sempre imaginou. Que eu amadureci, cresci, saí da barra da saia da mamãe, virei dona do meu destino e não faço mais nem por um segundo aquilo que os outros querem que eu faça, e sim sigo apenas as minhas vontades e instintos. Que eu não sou mais a tua menina boba. Bom, pelo menos em partes. E que mesmo assim eu vou ser sempre a tua menininha, a mesma que corria pela casa só de calcinha, a mesma que saía pela vizinhança pedindo esmola (lembra?), a mesma que esperava você dormir para ligar para todos os contatos da sua agenda, e que te incomodava todos os verões.
Eu sinto falta até mesmo das tuas repreensões.
Lembra de como éramos cúmplices? De como comíamos sorvete escondidas, locávamos filmes na locadora e saíamos para fazer compras enquanto o vovô dormia?
Eu só quis te dizer tudo isso, para te lembrar acima de tudo o quanto eu te amo e o quanto sempre te amarei, não importa quantos cachorros ou homens passem pela minha vida.
E também para te dizer que tudo se resume a lembranças boas, que dão uma saudade insustentável, um aperto no coração forte junto com uma lágrima que fica fazendo meu lábio tremer. Mas acima de tudo para te dizer que finalmente entendi e aceitei, que as pessoas que amamos são muito mais que apenas matéria, muito mais que músculos e válvulas, que a alma da gente é uma coisa tão mais profunda que nem mesmo os cientistas mais estudiosos conseguem entender.
Havia um plano bem mais complexo e mais bonito para você, eu sei disso. E também sei que a vida aqui embaixo não foi nada fácil, e é por isso que guardo na minha memória cada sorriso teu, e também cada choro de emoção.
Eu serei a tua menina (mimada sim) para todo o sempre e ninguém nunca chegará nem perto de ocupar o teu lugar. Pois eu te amo muito mais do que palavras, muito mais do que os físicos possam explicar, pois eu te amo com toda a minha alma.
TE AMO.


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RÁ. Te peguei